O historiador inglês Tom Holland (Wiltshire, 1968) tem uma capacidade especial para se deslocar entre os imperadores romanos. Depois de “Rubicon”, teu sucesso de crônica da implosão da República, com Júlio César, publica em Portugal “Dinastia” (Sótão dos Livros), um relato muito desigual do “big-bang” do poder absoluto, que foi o Império romano.
Os 5 imperadores júlio-claudianos -Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero – escreveram com sangue, em só meio século, as páginas de todos os excessos e a pretensão do poder. Holland é um historiador que transborda um senso de humor britânico e, às vezes grosseiro. Mas, é claro, explicando de críemenes execrables dos Césares não é outra que assumir a terminologia e usar-se piscadelas de humor negro.
Holland a toda a hora viaja com um sorriso os imperadores, os políticos atuais, do público de Roma ao circo das redes sociais. Como não se divertir no momento em que as comparações vão ser tão desagradável? Por que reverter pros Césares? “Rubicão” refletia na distância pra superpotência americana depois do 11 de setembro e a competição do Iraque. Acabava com o assassinato de César e a implosão da República.
Desde então tinha pensado retornar ao tempo para revelar como os romanos se amoldaron a perda de sua liberdade. Eu acredito que a informação de um líder autocrático que centraliza o poder e, ainda desse jeito, fornece-se como um defensor do público tem adquirido maior relevância desde que acabei de terminar o livro.
Diz que com o império, o poder desaparece a claridade, se vai do Senado. A República é “res publica”, que se trata em público. Quando Augusto promete restaurar a República sabe que não é possível. Em sua residência do Palatino, de onde vem a palavra palácio, a política se faz em sussurros pelos corredores, talvez na cama. Assim, as mulheres, os escravos, têm mais influência que um cônsul. Nós Sabemos ou não o que se passava? A sombra é mais difícil de penetrar.
Mas, ao mesmo tempo, os romanos, em um grau em que hoje nos reconhecemos, eram viciados em rumores e fofocas. O que Trump chamaria de notícias falsas (risos) tinha um monte de notícias falsas pela Roma antiga. Será que eram tão úteis como hoje? Os boatos, escândalos, eram uma arma política poderosa.
O sucesso, o triunfo, A tragédia da República, em efeito, é um povo destruído por suas melhores qualidades. Morreu de um correto sucesso, pelo motivo de o seu ethos era uma concorrência saudável, no entanto essa energia foi canalizada fora contra os adversários de Roma. Isso foi letal. A perícia pra tomar o mundo fez indivíduos mais poderosos e ricos, quem sabe, não que os mecanismos de governo, mas sim que as restrições morais que haviam mantido o poder distribuído. A violência só será superada com uma autocracia.
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E você ganha o mais cruel e ambicioso dos guerreiros. Mas, tendo gado neste momento tem o que queria e reconhece que a crueldade tem cumprido o papel que ele precisava. Com Augusto, bastava neste instante com a ameaça de agressão, como Brando em o robusto chefão, cujo nome permitia, com apenas pronunciar-se, que a gente obedecendo. Estamos hoje pela mesma execução destrutiva das democracias? Eu acho que não. Todo o mundo reconhece o jogo de Putin ou Erdogan, que estão demoliendo das estruturas democráticas. Não acho que suportassem uma comparação com Augusto, que foi o mais perspicaz e calculista, até graus supremos, da história política do ocidente.
Nem acredito que Trump tenha paciência pra fazer alguma coisa dessa forma. O que comparamos a Trump? Com Nero. O imperador descobriu que insultando os líderes políticos e humillándoles em público se tornou alguém incrivelmente popular (risos). O modo em que Trump tratou Hillary Clinton, ou Jeff Bush, e depois para os imigrantes e pros muçulmanos… lhe permitiu perceber que a gente está encantada com o espetáculo. Disse que poderia atirar em qualquer um na rua, sem perder a popularidade. Nero matou tua mãe.